A Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém - TEMPLÁRIOS - nasceu da ideia de cruzada, que justificou e legitimou uma instituição ao mesmo tempo religiosa e militar, votada à "guerra santa".
Fazer a "guerra santa" encontra a sua legitimidade num dos maiores doutores da Igreja, Santo Agostinho (345-430), o qual distingue a "guerra injusta", que condena, da "guerra justa" que é lícita e na qual qualquer cristão deve participar.
A "guerra santa" não é um fim em si, mas o meio legítimo e necessário conferido por Deus e o seu vigário, o Papa, aos crentes para alargarem o reino da religião.
Empresa de salvação e redenção, a "guerra santa" implica um valor específico do combate contra os infiéis, acompanhada de diversas recompensas espirituais.
O triunfo da Igreja não pode passar senão pela união da espada e da fé.
Para São Bernardo de Claraval, tornado monge, que concebeu a Ordem como uma "Milícia de Deus" via-a como uma religião armada e militante.
Apoiados em textos de Santo Agostinho sobre o direito de guerra lícita, os papas que lhe seguiram, deram aos cristãos o direito e o dever de usar a cruz e combater para proteger a Igreja e libertar os lugares injustamente ocupados pelos infiéis visando tomar pela força os lugares cristãos caídos na servidão ou ameaçados pelo Islão.
É no fim do Séc. XI (1095) que, com o apelo lançado pelo papa Urbano II dirigindo-se à multidão de clérigos e cavaleiros, os exortam a tomarem armas para libertarem o Santo Sepulcro em Jerusalém e os cristãos do Oriente.
O serviço militar feudal era muito limitado no tempo. O afluxo de peregrinos aos lugares santos da Palestina era constante, muitos deles pereciam nos ataques dos malfeitores e ladrões que infestavam os caminhos.
De apenas um grupo de homens cavaleiros franceses e a ideia no pensamento agostiniano, ao mesmo tempo clérigos e guerreiros, manejando as armas espirituais e as armas temporais, dedicaram-se a defender os peregrinos a proteger os caminhos e a servir na cavalaria do rei soberano, para remissão dos seus pecados.
A sua tarefa era vigiar as estradas e escoltar os peregrinos.
Ràpidamente se convenceu o rei - Luís VII de França - da utilidade de uma milícia permanente, composta por homens simultaneamente de oração e guerra.
Tomaram o nome de Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (1118 ou 1119 data da sua fundação) por terem construído o seu castelo sobre as ruínas do antigo Templo de Salomão em Jerusalém .
De dimensão modesta em 1123 desde então chamada Ordem do Templo de Jerusalém com ideias espirituais de paz e de caridade em proveito dos mais fracos, e defendidos, se necessário, pelas armas.
Pretendia-se um reconhecimento oficial jurídico e espiritual, sobretudo do papado.
O Papa Honório II, em 1128 (Séc. XII), concedeu à Ordem a legitimidade da sua fundação.
Embora tenha sido criada para a defesa da Terra Santa é na Península Ibérica que os Templários em 1128 fazem os seus primeiros combates, quando D. Teresa, viúva do Conde D. Henrique - mãe de D. Afonso Henriques - lhes confiou a tarefa de conter o avanço do Islão e guardar as fronteiras do Sul do Condado Portucalense.
Supõe-se que foi em 1126 que apareceu um núcleo de cavaleiros da milícia em Portugal.
É durante o governo de D. Teresa que os Templários fundam a sua sede no castelo de Soure no rio Mondego, construindo o castelo de Tomar no reinado de D. Afonso Henriques, para onde se haviam de instalar definitivamente com a sua sede, distinguindo-se nas conquistas dos castelos a norte e a sul do Tejo.
Ao longo da sua existência muitos privilégios lhe foram concedidos, a tal ponto de serem a causa de numerosos diferendos com as autoridades religiosas e laicas, suscitaram críticas do povo e serviram de base a muitas censuras, por vezes graves, quando a Ordem adquiriu uma importância militar, política e económica muito grande.
A sua história é um contraste de confusões.
Estes monges guerreiros possuíam muitos tesouros religiosos fabulosos incluindo, assim se dizia, a coroa de espinhos desgastados por Jesus enquanto padecia na Cruz.
Pensava-se também que eram os detentores daquele que para a maioria seria a maior e mais estimada relíquia Cristã, o Santo Graal - o cálice que Jesus Cristo usou na última ceia.
Os Templários são acusados de orgulho, independência em relação ao papado e de querer dominar o poder temporal pelo dinheiro.
Tinham má reputação junto do povo que lhe denunciava o orgulho, os privilégios indevidos, a riqueza suspeita e os maus costumes.
Com tão graves acusações a sua existência acaba por ser posta em causa.
Segundo parece fizeram desaparecer os documentos mais importantes e secretos da Ordem os quais nunca mais foram descobertos dando origem a que não haja um conhecimento totalmente exacto sobre a mesma.
Ao fim de quase dois séculos de existência é consumada a sua abolição.
O rei de França Filipe IV - o Belo - depois de informado de tais acusações, um verdadeiro admirador da Ordem (e também a Ordem era credora deste), fica desprevenido com tal enormidade, ordena um inquérito que se prolonga por alguns anos, informa o papado e inicia sequencialmente a prisão dos Templários de França em 1307, enquanto pedia aos reis dos países cristãos que prendessem os membros residentes nos seus Estados.
Pouco eco teve esse apelo nos reinos de Aragão, Castela, Portugal, Inglaterra e Alemanha onde alguns membros foram presos, interrogados e depois soltos.
O Papa Clemente V, após a sua eleição, acedendo às instâncias de Filipe o Belo, transferiu a sede tradicional da Cristandade para Avinhão em França durante cerca de setenta anos (ficando denominados fugitivos os sete papas que residiram em Avinhão).
A pedido do rei Filipe IV, Clemente V cede às pressões, deixando mesmo a autoridade eclesiástica ser ultrapassada, promulga em 1312 (Séc. XIV) a abolição da Ordem sem a condenar, reconhecendo no entanto, que nenhuma prova de culpa permitia estabelecer a veracidade das acusações por não poder acreditar nelas, embora interrogados os prisioneiros franceses por Cardeais enviados pelo Papa, que confessaram as acusações de que vinham sendo acusados.
Algures na Europa, onde muitos Templários escaparam da supressão, a Ordem ajustou as suas posições.
Os Templários Portugueses mudaram simplesmente o seu nome - como um negócio moderno muda o nome a fim de evitar débitos precedentes.
Os bens dos Templários foram atribuídos à Ordem de São João do Hospital (a mais antiga de todas as Ordens) que em Portugal tinham as suas sedes no mosteiro de Leça do Balio e em Flor da Rosa - no Crato - excepto os bens que em Portugal ficam à ordem do Vaticano, que deverão ser consagrados ao combate contra os Mouros, pela criação duma nova Ordem (Ordem de Cristo), e, em 1319, por iniciativa do rei D. Dinis, é aprovada pelo papa João XXII.